Prédio completa 100 anos em 2013, se transforma em espaço multiuso e é ambiente para diversos tipos de eventos na capital .

04/08/2012 22:26

 

Quando Antônio Garcia de Paiva resolveu criar seu negócio em 1903 não podia imaginar que a memória de sua família ficaria imortalizada, um dia, no prédio onde a serraria idealizada por ele funcionou por anos. A antiga indústria Garcia de Paiva e Cia, instalada inicialmente na antiga rua da Estação (atual avenida dos Andradas), só foi para o local atual dez anos depois de sua inauguração. Passou a ser chamada Serraria Souza Pinto em 1952, após a morte de Augusto de Souza Pinto, genro de Garcia e dono do estabelecimento na época, e é hoje um dos locais mais charmosos disponíveis para diversos tipos de eventos na capital, na avenida Assis Chateaubriand, 809, no Centro.

A Serraria, administrada pela Fundação Clóvis Salgado há 13 anos, tornou-se espaço multiuso e recebe feiras, exposições e também shows, festas e recepções fechadas. “Apesar de ser um espaço que atende diferentes tipos de eventos, como casamentos, aniversários de debutantes e festas de fim de ano de empresas, prio­rizamos o agendamento de eventos com viés cultural”, diz Sandra Campos, diretora de Programação da Fundação Clóvis Salgado e gerente da Serraria entre 1999 a 2010.

Um local de quase 100 anos e que guarda muitas histórias, como relembra uma ex-funcio­nária da empresa sobre a época industrial da Serraria. “Tínhamos uma convivência excelente e foi uma época muito boa. Tive oportunidade de estudar após ter começado a trabalhar lá”, relembra Maria de Lourdes Re­zende, de 76 anos, que trabalhou durante oito anos na área de contabilidade. Ela entrou na Serraria no fim dos anos 1950, e presenciou sua fase de declínio na década de 60. As amizades se foram, mas em sua memória continuam guardados momentos desse importante patri­mônio de nossa cidade. “É um tempo que agora fica só na saudade”, disse.

Uma curiosidade sobre a Serraria diz respeito ao fato de o local ter fornecido material para as obras de construções de destaque da capital, como o Minas Tênis Clube, o Edifício Acaiaca e o Colégio Santa Marcelina. Mas, mesmo após o fim das atividades comerciais, contatos com solicitações de orçamentos para serviços de serraria ainda eram recebidos até recentemente. Sandra Campos contou que durante o período em que ficou à frente do local, recebeu diversos e-mails com demandas do tipo.

 

Estrutura

O Conjunto Urbano Praça Rui Barbosa e Adjacências foi tombado pelo município e pelo Estado e a Serraria é um bem imóvel integrante que está, assim como as demais construções do entorno, sujeita a diretrizes especiais de proteção do patrimônio histórico. Os imóveis não podem ser destruídos, demolidos, pintados ou restaurados sem prévia autorização. Por se tratar de prédio tombado pelo Conselho Deli­berativo do Patrimônio Cultural do Município (CDPCM-BH), assim como pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico (Iepha), não é permitida a afixação de banners, cartazes, montagens de estruturas e decorações na fachada da Serraria. A utilização de pregos, fitas adesivas e qualquer outro objeto que possa sujar ou danificar as paredes internas da Serraria também são proibidas. Durante a realização de eventos com potencial emissão de ruídos, uma equipe da própria serraria faz o monitora­mento dos deci­béis, estabelecidos de acordo com as normas municipais.

A estrutura conta hoje com 5 mil m² de área construída, dois mezaninos, sala vip, lanchonete e estacionamento, além de ser adaptada para receber instalações de sonorização, iluminação, telefonia e informática. A Serraria recebe, em média, 120 mil pessoas anualmente. De acordo com Sandra Campos, a Serraria tem como vocação atender eventos diferenciados. “Em Belo Horizonte não há nenhum local com tanto charme como a Serraria, mesmo com a criação de novos espaços a cada dia”, disse, ressaltando que a Serraria continuará sendo, no futuro, um local multiuso.

Está prevista para o ano que vem uma reforma geral de manutenção em toda a Serraria e o projeto ainda está em fase de desenvolvimento. Em 2013 serão completados 16 anos do processo de restauração que culminou em sua reabertura.

 

As fases de uma história em detalhes

1903 - A Serraria Souza Pinto é fundada pelo industrial Antônio Garcia de Paiva com o nome Garcia de Paiva e Cia.

1909 - Antônio Garcia de Paiva torna-se sócio de seu funcionário e genro, o imigrante português Augusto de Souza Pinto.

1913 - A empresa é transferida para a avenida Tocantins (atual avenida Assis Chateaubriand) e passa a ser chamada de Garcia de Paiva e Pinto. Teve seu auge na década de 1920, com 250 empregados.

Anos 1940 - Embora a principal atividade fosse a serraria, também são comercializados materiais de construção civil. Chega a fornecer material para as obras do Minas Tênis Clube, do Edifício Acaiaca e do Colégio Santa Marcelina. Começa a entrar em declínio.

1952 - Augusto Souza Pinto falece. A serraria passa a ser administrada pelos filhos e então é denominada Serraria Souza Pinto.

1966 - É concluída a desativação da empresa.

1988 - Passa a ser patrimônio do Estado. É utilizada como estacionamento e oficina mecânica até 1992.

1993 - A partir de uma pesquisa, é dado o destino cultural ao local.

1997 - Em 29 de abril é entregue à população um novo espaço cultural, a Serraria Souza Pinto.

 

*Fonte: Diário Oficial do Município de Belo Horizonte - DOM, 31/07/2012.