Prédio completa 100 anos em 2013, se transforma em espaço multiuso e é ambiente para diversos tipos de eventos na capital .
Quando Antônio Garcia de Paiva resolveu criar seu negócio em 1903 não podia imaginar que a memória de sua família ficaria imortalizada, um dia, no prédio onde a serraria idealizada por ele funcionou por anos. A antiga indústria Garcia de Paiva e Cia, instalada inicialmente na antiga rua da Estação (atual avenida dos Andradas), só foi para o local atual dez anos depois de sua inauguração. Passou a ser chamada Serraria Souza Pinto em 1952, após a morte de Augusto de Souza Pinto, genro de Garcia e dono do estabelecimento na época, e é hoje um dos locais mais charmosos disponíveis para diversos tipos de eventos na capital, na avenida Assis Chateaubriand, 809, no Centro.
A Serraria, administrada pela Fundação Clóvis Salgado há 13 anos, tornou-se espaço multiuso e recebe feiras, exposições e também shows, festas e recepções fechadas. “Apesar de ser um espaço que atende diferentes tipos de eventos, como casamentos, aniversários de debutantes e festas de fim de ano de empresas, priorizamos o agendamento de eventos com viés cultural”, diz Sandra Campos, diretora de Programação da Fundação Clóvis Salgado e gerente da Serraria entre 1999 a 2010.
Um local de quase 100 anos e que guarda muitas histórias, como relembra uma ex-funcionária da empresa sobre a época industrial da Serraria. “Tínhamos uma convivência excelente e foi uma época muito boa. Tive oportunidade de estudar após ter começado a trabalhar lá”, relembra Maria de Lourdes Rezende, de 76 anos, que trabalhou durante oito anos na área de contabilidade. Ela entrou na Serraria no fim dos anos 1950, e presenciou sua fase de declínio na década de 60. As amizades se foram, mas em sua memória continuam guardados momentos desse importante patrimônio de nossa cidade. “É um tempo que agora fica só na saudade”, disse.
Uma curiosidade sobre a Serraria diz respeito ao fato de o local ter fornecido material para as obras de construções de destaque da capital, como o Minas Tênis Clube, o Edifício Acaiaca e o Colégio Santa Marcelina. Mas, mesmo após o fim das atividades comerciais, contatos com solicitações de orçamentos para serviços de serraria ainda eram recebidos até recentemente. Sandra Campos contou que durante o período em que ficou à frente do local, recebeu diversos e-mails com demandas do tipo.
Estrutura
O Conjunto Urbano Praça Rui Barbosa e Adjacências foi tombado pelo município e pelo Estado e a Serraria é um bem imóvel integrante que está, assim como as demais construções do entorno, sujeita a diretrizes especiais de proteção do patrimônio histórico. Os imóveis não podem ser destruídos, demolidos, pintados ou restaurados sem prévia autorização. Por se tratar de prédio tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município (CDPCM-BH), assim como pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico (Iepha), não é permitida a afixação de banners, cartazes, montagens de estruturas e decorações na fachada da Serraria. A utilização de pregos, fitas adesivas e qualquer outro objeto que possa sujar ou danificar as paredes internas da Serraria também são proibidas. Durante a realização de eventos com potencial emissão de ruídos, uma equipe da própria serraria faz o monitoramento dos decibéis, estabelecidos de acordo com as normas municipais.
A estrutura conta hoje com 5 mil m² de área construída, dois mezaninos, sala vip, lanchonete e estacionamento, além de ser adaptada para receber instalações de sonorização, iluminação, telefonia e informática. A Serraria recebe, em média, 120 mil pessoas anualmente. De acordo com Sandra Campos, a Serraria tem como vocação atender eventos diferenciados. “Em Belo Horizonte não há nenhum local com tanto charme como a Serraria, mesmo com a criação de novos espaços a cada dia”, disse, ressaltando que a Serraria continuará sendo, no futuro, um local multiuso.
Está prevista para o ano que vem uma reforma geral de manutenção em toda a Serraria e o projeto ainda está em fase de desenvolvimento. Em 2013 serão completados 16 anos do processo de restauração que culminou em sua reabertura.
As fases de uma história em detalhes
1903 - A Serraria Souza Pinto é fundada pelo industrial Antônio Garcia de Paiva com o nome Garcia de Paiva e Cia.
1909 - Antônio Garcia de Paiva torna-se sócio de seu funcionário e genro, o imigrante português Augusto de Souza Pinto.
1913 - A empresa é transferida para a avenida Tocantins (atual avenida Assis Chateaubriand) e passa a ser chamada de Garcia de Paiva e Pinto. Teve seu auge na década de 1920, com 250 empregados.
Anos 1940 - Embora a principal atividade fosse a serraria, também são comercializados materiais de construção civil. Chega a fornecer material para as obras do Minas Tênis Clube, do Edifício Acaiaca e do Colégio Santa Marcelina. Começa a entrar em declínio.
1952 - Augusto Souza Pinto falece. A serraria passa a ser administrada pelos filhos e então é denominada Serraria Souza Pinto.
1966 - É concluída a desativação da empresa.
1988 - Passa a ser patrimônio do Estado. É utilizada como estacionamento e oficina mecânica até 1992.
1993 - A partir de uma pesquisa, é dado o destino cultural ao local.
1997 - Em 29 de abril é entregue à população um novo espaço cultural, a Serraria Souza Pinto.
*Fonte: Diário Oficial do Município de Belo Horizonte - DOM, 31/07/2012.