O desenvolvimento industrial.
A Cidade de Minas, futura Belo Horizonte, nasceu nos primeiros anos do regime republicano, quando setores da elite agro-exportadora assumiram o poder político.
Em Minas, grupos emergentes ligados à cafeicultura da Zona da Mata e Sul de Minas assumiram a bandeira da mudança da Capital, contra os interesses consolidados na região mineradora, em processo de estagnação e decadência econômica.
A escolha do Arraial do Curral del Rei foi uma solução de compromisso entre os dois grupos da elite mineira . Os representantes da região mineradora não queriam a mudança, enquanto as novas forças políticas pugnavam pela transferência para a Várzea do Marçal, na Zona da Mata. O sulinos ameaçavam até mesmo com o separatismo. O impasse foi resolvido com a escolha do Curral del Rei, pelo Presidente Afonso Pena. O pequeno Arraial do Curral del Rei produzia gêneros para o abastecimento da região mineradora, especialmente gado e produtos agrícolas. Com a instalação da Saint John del Rei Mining Co. em Nova Lima (1834) e da Cia. Mineira de Fiação e Tecidos, em Marzagão, distrito de Sabará (1879) , algumas atividades industriais começam a se desenvolver, constituindo-se em precursoras da indústria belohorizontina. Dentre os empreendimentos mais significativos figuram " um estabelecimento de fiação e tecelagem de maior vulto para aquela época foi instalado em 1838, no distrito de Neves Venda Nova" ; " uma fundição de ferro e bronze, nas proximidades da Lagoa de Maria Dias, mais ou menos onde se dá hoje o cruzamento da Av. Paraná com a Rua Carijós, de propriedade do Sr. Francisco de Souza Menezes, fundada em 1845" ; " em 1885 (...) os Srs. Cel. Virgílio Cristiano Machado, Cap. José Carlos Vaz de Melo e Dr. Campos da Paz fundaram uma fábrica de manufatura (sic) de ferro, no lugar denominado Cardoso, fábrica essa que produziu obras de vulto, como por exemplo as grades da cadeia de Sabará. Liquidada a sociedade aí por volta de 1888, passou a fábrica a pertencer à Cia. Progressista Sabarense, que a cedeu, mais tarde, à Comissão Construtora da nova Capital " ; e mais " uma pequena manufatura de velas de sebo para fornecimento à Cia. de Morro Velho, de propriedade dos Srs. Eduardo Edwards, Cap. José Vaz de Melo e D. Amélia Goulart, que regulavam fornecer à Companhia, 18 mil dúzias por ano."
Belo Horizonte, cidade planejada e construída pelas elites dirigentes do Estado para ser a Capital política e administrativa, foi concebida sob a égide da ideologia republicana. Seu planejamento, fortemente influenciado pelas idéias positivistas, dentro do paradigma de modernidade da época, buscava controlar, através da concepção urbanística, as instâncias pública e privada da população.
A concepção inicial da cidade, de autoria do engenheiro maranhense Aarão Reis, contemplava aspectos extremamente modernos da teoria urbanística, dotando a nova Capital de espaços de lazer, arborização, ruas e avenidas largas, equipamentos urbanos para a prática esportiva, além de uma forte preocupação com a questão sanitária, numa clara referência às cidades coloniais. Entretanto, não previa a determinação de espaços destinados à atividade industrial, e nem tampouco para habitações populares ou proletárias.
Desde o início as atividades industriais começaram a surgir, traduzidas em diversas pequenas empresas produtoras de materiais de construção. Essas primeiras indústrias apresentavam três características principais: sua produção era voltada para o mercado local; utilizavam matérias primas provenientes do setor primário, e, possuíam um baixo grau de mecanização, estando portanto mais próximas da manufatura do que propriamente da indústria que conhecemos hoje. Assim, surgiram grandes estabelecimentos que fabricavam uma ampla gama de produtos, que iam da cerâmica às bebidas e cartões postais, do processamento de fumos à fabricação de balas e bombons. Típicas representantes dessa fase foram as empresas Lunardi & Machado, o Estabelecimento Industrial Mineiro, de Paulo Simoni , e o Empório Industrial, de Antônio Teixeira Rodrigues, Conde de Santa Marinha.
Para atender à demanda da população que chegava, atraída pelo gigantesco empreendimento e pelas possibilidades econômicas da nova Capital, proliferaram os pequenos empreendimentos industriais voltados para o consumo popular. Eram pequenas fábricas de carroças, artigos de vestuário, padarias, cerâmicas, fábricas de arreios, curtumes, tipografias, caldeirarias, funilarias, cervejarias, enfim, tudo que suprisse as necessidades da crescente população. O mercado consumidor era promissor: as centenas de funcionários públicos e suas famílias, com nível salarial relativamente alto, garantidos pelo erário público.
Na medida que a cidade se estruturava e os meios de transporte e comunicações tornavam possível o intercâmbio entre Belo Horizonte e as demais regiões do Estado e do País, o setor industrial foi se desenvolvendo, baseado principalmente no pequeno capital duramente amealhado pelos imigrantes - italianos, portugueses, espanhóis e de outras nacionalidades (em menor escala ) - e nos incentivos oferecidos pela Prefeitura. Os Prefeitos Municipais cuidaram de incentivar o estabelecimento de indústrias para fortalecer a economia da cidade e concretizar o objetivo do governo mineiro de transformar a nova Capital no centro dinâmico da economia estadual.
Já em 1902, o Prefeito Bernardo Monteiro baixou o Decreto n.º 1.516, "regulando a concessão de terrenos a indústrias, associações e a venda a particulares". Na apresentação do Decreto ao Conselho Consultivo, o Prefeito, numa inspiração profética, augura um próspero futuro industrial para Belo Horizonte:
"A necessidade de desenvolver indústrias incipientes e de criar novas, impõe-se ao espírito dos que desejam o engrandecimento da Capital, e assim obedecem ao pensamento do legislador, que decretou a sua edificação, desejoso de abrir um novo centro de trabalho, onde o comércio e a indústria encontrassem campo vasto para se auxiliarem numa reciprocidade de favores, que oferecesse garantias eficazes de futuro certo e seguro.
Além do concurso permanente que nela mora - o funcionalismo público - para o seu aformoseamento e valorização, entendi de meu dever atrair o capital estrangeiro, para isso fazendo concessões, que surtindo o desejado efeito, me permitem anunciar o próximo estabelecimento de uma importante fábrica, o início portanto de um novo período de esforços e engrandecimento da cidade, que com verdadeiro prazer, verifico todos os dias.
Embora não seja a Capital um núcleo bastante populoso, a sua situação em relação a diversas zonas do Estado, já consideráveis mercados de consumo, legitima a possibilidade de ser ela um centro industrial."
Além dos fatores mercado e capital, também a oferta de energia elétrica era fundamental para que se cumprisse a profecia de Bernardo Monteiro.
A primeira iniciativa partiu da Comissão Construtora, já então sob a liderança do Eng.º Francisco Bicalho, que em fins de 1896 deu início à construção da Usina Hidrelétrica de Freitas, aproveitando uma queda d`água do Ribeirão Arrudas.
O Governo contratou a Cia. Mineira de Eletricidade, de Bernardo Mascarenhas, pioneiro na eletrificação urbana em Minas Gerais, iniciando-se as obras em março de 1897.
Essa primeira Usina aproveitava uma queda d´água muito reduzida, o que condicionava sua pequena produção.
Em 1905, com a publicação do Decreto n.º 1.833, teve início a construção de uma nova Usina, a do Rio das Pedras, localizada no município de Itabirito, às margens do Rio das Velhas.
Essas duas unidades supriram Belo Horizonte de energia elétrica pública, residencial e industrial até 1911.
De 1912 a 1928 os serviços de eletricidade estiveram arrendados à Empresa de Eletricidade e Viação Urbana de Minas Gerais, quando passaram para a esfera do Departamento de Eletricidade.
A Prefeitura forneceu energia gratuita a diversas indústrias durante um longo período: de 1902 a 1916.
Os contratos de doação de terrenos, isenção de impostos e taxas e fornecimento gratuito de energia elétrica foram firmados com as mais importantes indústrias da cidade, como: Fábrica de Punhos e Colarinhos, de João Idelfonso da Silva , Cia. Industrial Belo Horizonte, Tavares & Cia, Carlos Fornaciari & Filhos, Cia. Minas Fabril, Jayme Salse, Estabelecimento Industrial Mineiro, Lunardi & Machado, Domingos Mucelli, e inúmeros outros.
Os contratos, com duração máxima de 10 anos , chegaram a representar 20% da arrecadação do município.
Em 1916 o Prefeito Cornélio Vaz de Melo decide encerrar essa era de benesses aos empresários industriais, denunciando contratos e não mais renovando-os.
"Os favores concedidos às indústrias não correspondem, segundo penso, aos sacrifícios que com eles faz a Prefeitura. (...) Com a energia elétrica às indústrias, despende a Prefeitura quantia superior à orçada." (...)
"A força motriz para indústrias continua a ser em número de 106 ligações, sendo 26 por concessão da Prefeitura e 80 ligações particulares." (Relatório apresentado aos membros do Conselho Deliberativo da Capital pelo Prefeito Dr. Cornélio Vaz de Mello. Bello Horizonte: Imprensa Oficial. Setembro de 1915)
A I Guerra Mundial (1914 - 1918) provocou uma ruptura no desenvolvimento econômico e industrial da cidade, em função do decréscimo nas exportações de café e outros produtos primários, caracterizando uma forte recessão. O relatório do Prefeito Affonso Vaz de Melo retratava essa conjuntura, que repercutiu negativamente sobre o desenvolvimento da cidade:
"Apesar da situação de dificuldades que a humanidade atravessa repercutindo ainda que não acentuadamente em nosso país, sentimos os seus efeitos no encarecimento da vida antes pelo isolamento em que nos achamos do Velho Mundo, do que pela nossa condição de beligerantes na conflagração mundial."
(Relatório apresentado aos membros do Conselho Deliberativo da Capital pelo Prefeito Dr. Affonso Vaz de Melo. Belo Horizonte: Imprensa Oficial.Outubro de 1918)
A industrialização de Belo Horizonte atingiu seu limite, esgotando a pequena oferta de energia elétrica, suprida basicamente pelas Usinas de Freitas e Rio das Pedras, administradas pela Empresa de Eletricidade e Viação Urbana de Minas Gerais. Interrupções freqüentes levaram a Prefeitura a construir a chamada Usina de Gás Pobre, em 1911. Nesse ano o Anuário de Minas Gerais assim considerava a questão energética:
"Em Belo Horizonte, estão a cargo da Comp. Brasileira de Eletricidade Siemens Schuckertwerke, do Rio e filial da casa Siemens, de Berlim, os serviços de instalação da Usina à gaz pobre, montada em frente ao edifício da atual Distribuidora, para reforço da energia elétrica, que serve a iluminação e viação da cidade.
Em fins de 1911 deve ficar funcionando a nova instalação da Usina movida a gaz pobre, já sendo notoriamente insuficientes a força e luz vindas das estações hidroelétricas de Freitas e Rio das Pedras, para servirem a Capital do Estado, que tem extraordinariamente crescido em população, área e indústrias."
(Annuário de Minas Gerais. Bello Horizonte, v. 4, 1911, p.232)
As obras civis da Usina de Gás Pobre ficaram a cargo da Empresa Prado Lopes, e sua localização à Av. Afonso Pena, em frente ao Departamento de Eletricidade, causava transtornos à população, devido ao barulho estrondoso de seu enorme maquinismo (vendido mais tarde como ferro-velho).
Terminado o conflito mundial a cidade voltou a crescer, atingindo na década de 1920 um dos períodos áureos da industrialização municipal. O crescimento econômico nessa etapa decorre principalmente da expansão do setor siderúrgico, capitaneado pela Cia. Siderúrgica Belgo Mineira, e fortalecido por algumas empresas localizadas na região metalúrgica, especialmente nos municípios de Caeté, Rio Acima e Belo Horizonte.
Em 1925 inaugura-se a duplicação da Usina do Rio das Pedras, com a montagem de um novo gerador de 2.200 kwatts, batizada de Usina Mello Vianna, dobrando a capacidade daquela planta. Rio das Pedras seria ainda ampliada em 1929, e, continua até hoje a gerar energia elétrica, sob a direção da CEMIG.
A década de 1920, apesar das crises políticas - movimento dos tenentes e Coluna Prestes, que culminaram com a Revolução de Outubro de 1930 -, foi um período de pujante crescimento econômico. O aumento da produção siderúrgica refletiu-se sobre a economia regional, contribuindo para o fortalecimento da indústria em Belo Horizonte.
A economia da cidade passou a contar com vários empreendimentos siderúrgicos nas redondezas, representando não só muitos empregos, como também a dinamização do mercado local.
No final dos anos 20 tem início a construção de estradas de rodagem ligando Belo Horizonte a São Paulo e ao Rio de Janeiro.
Os serviços de energia elétrica da Capital mineira passaram ao controle de uma empresa estrangeira, a Bond & Share. O Presidente do Estado assim se manifestou sobre o assunto:
"Por contrato de 5 de outubro de 1929, os serviços de energia elétrica desta Capital passaram à Companhia de Força e Luz de Minas Gerais, filiada à Empresa Elétrica Brasileira S.A., do Rio de Janeiro, e esta, por sua vez, incorporada à Bond & Share. Vale dizer, foram entregues a uma empresa de indiscutível idoneidade técnica e financeira." (Mensagem apresentada pelo Presidente do Estado de Minas Gerais ao Congresso Mineiro e lida na Abertura da 4ª Seção ordinária da 10ª Legislatura. Belo Horizonte, Imprensa Oficial de Minas, 1930.)
Apesar da crise econômica mundial, com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, a produção industrial do Estado já se aproximava da agrícola, em valores de produção.
A Revolução de 1930 propicia a ascensão de setores da burguesia nacional ligados à industrialização, o que se traduz em iniciativas de incentivo à produção fabril e numa política de valorização do nacionalismo também no setor produtivo.
Refletindo a diferenciação do grupo industrialista dentro das elites dirigentes, é criada a FIEMG, em 1933, reunindo representantes dos modernos setores industriais da região metalúrgica. Embora em 1933 a indústria de Juiz de Fora continuasse liderando o setor secundário em Minas, seu parque industrial constituía-se basicamente de unidades têxteis, enquanto a região de Belo Horizonte concentrava os setores mais dinâmicos da indústria do Estado.
O crescimento industrial do País torna-se uma bandeira da afirmação do Estado brasileiro, bem como a proteção das riquezas do sub-solo, a exploração das fontes de energia e a instalação da indústria de base, para a qual Minas Gerais possuía matérias-primas abundantes, além de tecnologia e recursos humanos bem preparados, especialmente na Escola de Minas de Ouro Preto.
Na década de 1930, destaca-se em Belo Horizonte a atuação do Prefeito Octacílio Negrão de Lima, incansável incentivador do desenvolvimento industrial da cidade.
É criada a Zona Industrial de Belo Horizonte (Lei Estadual n.º 98/36, e Decreto n.º 104/36), no Barro Preto, numa faixa de 150 metros compreendida entre o Ribeirão Arrudas e as linhas da E.F.Central do Brasil e Oeste de Minas. A principal concentração de indústrias da Capital desloca-se das imediações da Estação Ferroviária para a região do Barro Preto. Alí se instalam inúmeras industrias, destacando-se a Cia. da Cigarros Souza Cruz.
O ano de 1938 é marcado pelo início das atividades da Cia. Renascença Industrial, no bairro de mesmo nome, empregando cerca de 1.000 trabalhadores (mulheres em sua maioria), que provocou um grande impacto na economia municipal.
Entretanto, a Zona Industrial no Barro Preto, dentro da área urbana da cidade, não comportava a instalação de indústrias pesadas, devido às limitações de espaço. A instalação da Cia. Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda (RJ), representou uma enorme frustração para os mineiros, cada vez mais conscientes da necessidade de garantir para Minas os benefícios da indústria extrativa, para a qual o Estado foi historicamente vocacionado.
Novamente o Governo do Estado atuou, objetivando impulsionar o desenvolvimento e consolidar Belo Horizonte como principal pólo econômico do Estado, assinando o Decreto n.º 770, de 20 de março de 1941, que criou a Cidade Industrial, na localidade de Ferrugem, município de Betim.
Embora tenha demorado a se consolidar, a Cidade Industrial representou um marco fundamental do processo de industrialização de Belo Horizonte.
O Governo desapropriou uma área de 770 hectares, loteou, promoveu o arruamento e desviou as linhas da E. F. Oeste de Minas e da Central do Brasil para facilitar o acesso ao local. Os terrenos foram arrendados às empresas que tivessem um projeto de construção, condicionando a posse dos mesmos à conclusão das obras em prazo determinado, findo o qual a área retornaria ao Estado. Para viabilizar a implantação de grandes indústrias, construiu a Usina de Gafanhoto no Rio Pará,, durante o período da II Guerra.
A inauguração da Cidade Industrial deu-se em 1946, mas poucas empresas seriam lá instaladas antes dos anos 50. Deve-se destacar o pioneirismo da Estamparia S/A, que começou a produzir no mesmo ano da inauguração da Cidade Industrial.
A década de 1940 marca o início do movimento de transferência de indústrias da área urbana de Belo Horizonte para os municípios vizinhos, tendência que iria se intensificar no final dos anos 60, com o movimento de transferência para os demais municípios da região metropolitana, em busca de espaços adequados para a expansão de suas instalações. Por isso, falar do desenvolvimento industrial de Belo Horizonte implica necessariamente em falar de Contagem e, à partir dos anos 60, da Região Metropolitana.
A criação da CEMIG, em 1952, pelo Governador Kubitscheck, garantiu a alavancagem do processo iniciado nos anos 40, respaldado na oferta de energia farta e barata para as indústrias.
Nesse mesmo ano é lançada a pedra fundamental da Cia. Siderúrgica Mannesman, no Barreiro, que começaria a produzir tubos sem costura em 1956.
A conjugação desses fatores - energia (CEMIG), transportes, ação política do Estado e dinamismo empresarial - fizeram com que os anos 50 se constituíssem na década de ouro da industrialização de Minas.
É o período de crescimento da construção civil, que teve importantes representantes em Belo Horizonte.
As construtoras mineiras atingiram um alto nível de competência técnica, e se capitalizaram no período JK, reforçadas pela construção de Brasília.
Também os setores moveleiro e de aparelhos elétricos tiveram grande impulso em Belo Horizonte nos anos 50. A Indústria de Móveis Minart se sobressaiu, transformando-se na principal indústria de móveis de Minas, fornecedora da classe A, de grandes empresas e órgãos estatais que se transferiam para o Distrito Federal.
É ainda nessa época que se expandem as indústrias Gardini, Orsini, Luna e CIMBRA, fabricantes de fogões e geladeiras.
A década de 1960 traz grandes transformações no panorama industrial de Belo Horizonte, com a entrada do grande capital internacional, que provoca o fechamento de inúmeras pequenas e médias empresas industriais de bens de consumo, voltadas para o mercado interno. A partir do término da II Guerra Mundial, e mais intensamente com o Governo Kubitschek (1955 - 1960), começa a se instalar no Brasil o capitalismo monopolista, caracterizado pela busca de novos mercados para as economias centrais. Em contraposição ao nacionalismo que caracterizou o segundo Governo Vargas (1950-1954), o capital estrangeiro passa a ser visto como um aliado no processo de superação do subdesenvolvimento, e não como um recrudescimento da dependência. Regionalmente, empresas tradicionais fabricantes de bens duráveis perdem a competitividade e saem do mercado, substituídas pelas suas concorrentes localizadas principalmente no eixo Rio-São Paulo.
Intensifica-se o movimento centrípeto de transferência de indústrias da Zona Urbana de Belo Horizonte, para os municípios vizinhos, que viriam a se constituir na Região Metropolitana.
Uma nova transformação ocorre nos anos 70 , com a chegada de grandes empresas multinacionais de bens de capital, e com a migração de inúmeras indústrias para a região receptora de incentivos na área mineira da SUDENE.
O marco principal dos anos 70 foi a instalação da FIAT Automóveis, de capital italiano, a primeira montadora a ser implantar fora do eixo Rio - São Paulo. O vulto do empreendimento, localizado nas proximidades de Belo Horizonte, e seu sucesso empresarial há mais de 20 anos, representou o maior ganho da década para a economia do Estado.
As décadas de 1980 e 1990, marcadas por um longo período de recessão e estagnação econômica, foram paradoxalmente caracterizadas pela redemocratização do País e pelo processo da revigoramento da cidadania. Amplia-se a participação popular e a discussão sobre o perfil da indústria localizada na área urbana. Empresas que foram recebidas com entusiasmo nos anos 30, são obrigadas a se transferir para áreas industriais. A população passa a exigir maior qualidade de vida nas cidades e medidas de proteção ao meio ambiente. Essa tendência vai sinalizar um perfil industrial novo, moderno, baseado nas indústrias não-poluentes e de alta tecnologia. É nesse contexto que a centenária Belo Horizonte passa a se constituir, hoje, num dos mais importantes pólos industriais do País, com empresas de ponta nas áreas de confecção, calçados, informática , alimentação, aparelhos elétricos e eletrônicos, perfumaria e turismo de negócios, detentoras de marcas de renome nacional, com estruturas produtivas leves, ampla terceirização de atividades e grandes investimentos em marketing e publicidade.