A evolução econômica e cultural das regiões de BH.

01/04/2013 09:54

PAISAGENS EM TRANSFORMAÇÃO:

 

REGIÕES VENDA NOVA E BARREIRO:

Oficialmente, Venda Nova e o Barreiro são distritos de Belo Horizonte. Na prática, mais se parecem com cidades de médio porte. No primeiro, a população é de 270 mil pessoas.(Censo 2010-IBGE) No segundo, 281 mil(Censo 2010-IBGE). Boa parte dos moradores, agora, integra a chamada nova classe média. Resultado: tanto Venda Nova quanto o Barreiro foram invadidos por megarredes do varejo nacional, bancos de diferentes bandeiras e shoppings. As antigas feiras populares, claro, continuam faturando. A expansão do crédito nas duas regiões é confirmada pela quantidade de financeiras ao longo das vias principais.

 

O comércio explodiu em Venda Nova. O preço dos imóveis foi à altura. Grandes redes de magazines e lojas de departamento correram para lá. A principal rua do comércio vive apinhada de gente. A oferta de empregos é altíssima. Esse é o novo retrato da região, que exibe uma economia pulsante, agitada por uma população de 270.418 habitantes e 10.884 empresas (Censo IBGE-2010). Somente em 2012, a inauguração do Shopping Estação BH levou investimentos de R$ 215 milhões para a área. Entre as lojas âncoras que abriram as portas na Rua Padre Pedro Pinto, a principal do conglomerado de 42 bairros, estão Ricardo Eletro, Magazine Luiza, Marisa, Casas Bahia, Leader, Pernambucanas, Drogaria Araujo e Lojas Rede. Bons ventos também sopram em direção à economia do Barreiro.

 

A expansão da atividade comercial em Venda Nova foi impulsionada pela entrada da nova classe média no mercado e pelo anúncio da construção da Cidade Administrativa. Com o crescimento vigoroso, a população local, que antes era obrigada a ir ao Centro de BH para fazer compras, anda preferindo gastar o seu rico dinheirinho perto de onde mora.
Só a Ricardo Eletro tem quatro lojas no distrito. A mais nova está no Shopping Estação BH. São, no total, 85 funcionários. De janeiro de 2013 para cá, a estimativa é de que o fluxo de clientes está aumentando, em média, 12,5% ao mês. Segundo o presidente da bandeira Ricardo Eletro, Vinícius Hamzi, o Vetor Norte é hoje a região que apresenta maior crescimento em BH: “A nossa presença visa contribuir para o crescimento e desenvolvimento, gerando empregos e acesso mais fácil da população a bens de consumo antes restritos às regiões mais centrais da cidade”.

 

Em 2012, o empresário Elias Tergilene, proprietário do Uai Shopping, investiu 
R$ 22 milhões na aquisição de um espaço reservado pela prefeitura aos camelôs. O local foi reestruturado e recebeu 280 boxes, mas já passa por ampliação e será novamente reformado, numa mexida que vai custar R$ 15 milhões. No piso inferior estão sendo abertas 180 lojas. No de cima, será instalada uma praça de alimentação para 16 restaurantes. O estacionamento também está sendo aumentado de 300 para 1,2 mil vagas. Isso sem contar a nova expansão, planejada para 2014, que deverá dobrar o tamanho do centro de compras. 
 

O aumento do consumo no distrito levou Agmar Alves de Souza, dono da Renatec, especializada em tecidos, produtos para cama, mesa e banho, papelaria e brinquedos, a ampliar o quadro de funcionários, nos últimos cinco anos, de oito para 22. Ele pondera que a dificuldade é conseguir mais mão de obra: “A oferta de emprego é tão grande que somos obrigados a continuar trazendo funcionários de fora da região”. No Supermercado Dona Amélia, na  Rua Padre Pedro Pinto, o total de empregados aumentou 40% desde 2008. “A rede conta com oito lojas, mas a de Venda Nova está entre as três que mais vendem”, comemora o gerente, Marcelo Falcão Pires da Silva.

 

Paulo José Corrêa é proprietário da Leugim, do ramo de calçados, brinquedos, papelaria e confecção. Ele contratou, apenas nos últimos cinco anos, 10 empregados. “A Cidade Administrativa foi importante, pois valorizou a região. Quanto mais lojas, mais o comércio cresce e as pessoas acreditam mais.”

 

A maioria dos moradores do Barreiro não precisa ir ao Centro de Belo Horizonte para fazer compras. Na movimentada Avenida Visconde de Ibituruna, há uma grande concentração de redes nacionais, como Ricardo Eletro, Ponto Frio, Magazine Luiza, O Boticário, Ortobom, entre outras. Perto de lá, na Afonso Vaz de Melo, essas e outras empresas loteiam o ViaShopping, empreendimento com quatro andares, 147 lojas e cinco salas de cinema, sendo uma em 3D. Ao todo, há 9.930 empresas na região.

 

Assim como Venda Nova, o Barreiro foi beneficiado pela explosão da chamada nova classe média. A multidão que frequenta tanto o shopping (cerca de 12 milhões de pessoas por ano) quanto as lojas de rua oferecem um aperitivo a mais para os empresários do varejo: a região recebe grande fluxo de moradores de cidades vizinhas, entre elas Sarzedo, Brumadinho e Ibirité.

 

Lojas de rua, como a CD Shopping, especializada em instrumentos musicais, também comemoram o avanço financeiro da nova classe média. O gerente do local, Guilherme Santos, estima aumento das vendas em 20%, no confronto entre 2013 e 2012. “Aumentamos o quadro de colaboradores em 30% ao longo dos últimos três anos. O maior poder aquisitivo das pessoas permite que os pais presenteiem os filhos com violões e outros instrumentos musicais”, avalia.

 

A CD Shopping funciona na Visconde de Ibituruna, onde há duas financeiras no mesmo quarteirão. A presença delas reforça que o crédito anda em alta na capital mineira, onde 70% do Produto Interno Bruto (PIB) é sustentado pelo comércio e serviços. No Barreiro, motociclistas ganham a vida percorrendo as ruas com caixa de som propagandeando o crédito oferecido por financeiras.

 

REGIÕES NORDESTE E NOROESTE:

De áreas agrícolas para importantes polos comerciais e de serviços. As regiões Nordeste e Noroeste de Belo Horizonte, que juntas somam 560 mil moradores (24% da população) e 33.990 empresas (19,5% do total), de acordo com o Censo IBGE-2010, abrigam bairros como Alípio de Melo, União e Palmares, marcados pela mudança em suas paisagens. No primeiro, a expansão do crédito e a baixa taxa de desemprego na capital mineira atraíram grandes redes, cujo melhor exemplo está na Avenida Abílio Machado. No segundo e no terceiro, a construção de hotéis e de um complexo comercial vão impulsionar ainda mais o emprego.

A origem da Região Nordeste de Belo Horizonte remete à Fazenda São João Batista, cuja sede ocupava a área que hoje divide os bairros União e Palmares. O local está prestes a se transformar num polo hoteleiro, onde os dois empreendimentos já em atividade – Ouro Minas e Ímpar Suítes – vão ganhar a companhia de uma unidade do Ramada, outra do Almada e, por fim, uma terceira para a qual os empresários captam investidores. Os cinco hotéis, todos localizados num raio de menos de um quilômetro, estão de olho numa futura engrenagem daquelas bandas, o novo centro de convenções da capital, que será construído às margens da Avenida Cristiano Machado, num terreno entre o Minas Shopping e o Minascasa.
 

Os dois centros comerciais, aliás, se preparam para o novo polo hoteleiro. O Minascasa, por exemplo, receberá, em seu terreno, uma torre do Ramada. O estabelecimento está sendo erguido pela Construtora Lider e vai ser administrado pela Vert Hotéis, representante do grupo Wyndham. “Por ser construído dentro de um shopping, os hóspedes poderão usufruir de serviços, como banco 24 horas, salão de beleza, papelaria, loja de decoração, padaria…”, propagandeia Sandra Costa, vice-presidente do conselho de sócios da Lider.
 

O hotel, por sua vez, beneficiará os clientes do mall, pois uma praça de alimentação será construída no primeiro pavimento do Ramada Minascasa. O superintendente do shopping, Wallace Pinto, acredita que o fluxo de pessoas aumentará em 10%: “Por seu caráter diferenciado, com conceito gourmet, as lojas da nova praça vão atrair moradores e trabalhadores da região, além dos hóspedes”. O Minas Shopping também se apressou em garantir uma parcela dos clientes do futuro polo hoteleiro e em dezembro de 2012 ampliou o mix em 60 lojas. O investimento foi de R$ 40 milhões.

O gerente-geral do mall, Cícero Mello Sant’Anna, espera crescimento de 25% nas vendas em razão do aumento na área interna: “A construção dos hotéis vai contribuir diretamente para esse percentual”. Mas a maior tacada da AD Shopping, que administra o Minas, será gerenciar um grande empreendimento multiuso que está sendo erguido, em terreno vizinho ao shopping, pela EPO Engenharia. Trata-se de um complexo comercial e de serviços de 137 mil metros quadrados, que vai reunir dois edifícios, o Center Minas e Global Tower, sendo este último com heliporto.

O Center Minas terá seis pavimentos, quase 2,3 mil vagas para automóveis, 50 lojas, home center, 12 fast foods, oito âncoras – uma delas é a francesa Leroy Merlin. A primeira etapa deve ser inaugurada em abril de 2013, quando a Leroy entrará em funcionamento. Apenas nessa fase o aporte é de R$ 80 milhões. Já a segunda torre do complexo, a Global, terá 28 pavimentos. O edifício será destinado a empresas de serviços. O diretor-presidente da EPO, Gilmar Dias dos Santos, diz que a “área é um ponto estratégico em franca expansão”.

O polo hoteleiro e o complexo comercial surgem não só em razão do futuro centro de convenções de BH: a Avenida Cristiano Machado, principal caminho para as novas empresas, é um dos corredores que faz parte da Linha Verde, a via expressa que liga o Centro da capital ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. A combinação da importância da via com a chegada dos megaempreendimentos também vai beneficiar empresários de menor porte.
 

Fernando Zamforlim, dono da Hipperfrios Delikatessen, será um deles. O seu empreendimento, aberto há um ano e meio, no Bairro União, está no mesmo quarteirão do Ímpar Suítes e a menos de 700 metros do Ouro Minas e do Minascasa. “Os hotéis hoje representam cerca de 15% de minhas vendas, mas elas vão crescer bem depois da inauguração dos novos empreendimentos. Tanto que já estou ampliando a adega e o espaço para cerveja”, explica o comerciante.

 

Zamforlim ainda não estimou qual será o aumento nas vendas, mas acredita num percentual elevado. É a economia ditando os novos ritmos na Região Nordeste. Lá, segundo a Associação Comercial de Minas, há 14.182 empresas.

 

Construída para ser a moradia de operários que ajudaram a erguer a nova capital de Minas (Bairro Padre Eustáquio) e para o abastecimento agrícola de Belo Horizonte (Carlos Prates), a Região Noroeste, onde há 19,8 mil empresas, conforme Censo IBGE-2010, não é mais a mesma da fundação de Belo Horizonte: a área se valorizou, atraiu grandes investimentos e obrigou a prefeitura a tirar da gaveta projetos viários importantes para comportar o crescimento. A ligação da Avenida Pedro II, no Padre Eustáquio, à Presidente Tancredo Neves, no Bairro Castelo, encurtou o caminho entre as regiões Nordeste e Pampulha.
 

O aumento da renda do brasileiro, aliás, é notado em todo o país. No Bairro Alípio de Melo, porém, a boa-nova fica bem evidente para quem vai à Abílio Machado. A principal via do bairro já abriga grandes redes, como Ricardo Eletro, Ponto Frio, Magazine Luiza. O último destaque lá chegou em novembro de 2012. Trata-se de uma unidade das Lojas Americanas. Fica ao lado do shopping popular Xingu, outro exemplo de como o vaivém de pessoas naquele corredor desperta a cobiça do varejo.

 

Bom para o novo centro comercial, mas também para os chamados lojistas de rua. Na Gabrielly Carolina Calçados, a vendedora Roseli da Costa conta que o movimento de clientes, principalmente nas principais datas do calendário varejista, é tão grande que quase sempre os funcionários das lojas precisam se abdicar do horário integral do almoço. “Não dá tempo para nada”, reforçou a vendedora, acrescentando que atende consumidores de todas as classes sociais. “Temos clientes do Castelo, do Pindorama, do Glória, do Padre Eustáquio…” Roseli faz questão de destacar que no Natal e no Dia das Mães, consideradas as melhores datas para vendas no varejo nacional, o fluxo de consumidores ao longo da Abílio Machado é superior ao das vias do Hipercentro de Belo Horizonte. Moradora do Glória, Raquel Reis bate na mesma tecla: “Aqui fica como se fosse um formigueiro”. Para ela, o segredo do sucesso de público ao longo de vias da região é o comércio diversificado.

 

A região conta até com a Feira Coberta, no Padre Eustáquio, onde produtos da roça dividem espaço com mercadorias importadas. Getúlio Quintino, de 71 anos, é negociante de milho, pimentão, ovos, abóbora, entre outros produtos. “Busco na Ceasa. A clientela gosta, pois é tudo fresco”, diz o homem, que chegou ao local no início da década de 1970. Para ele, a feira é um pedacinho do interior na capital.

 

REGIÕES NORTE E PAMPULHA:

Àvidas pelo avanço do consumo da classe média, que encontra crédito fácil no setor financeiro, muitas construtoras estão sondando moradores de bairros da Pampulha, como Santa Amélia e Santa Mônica. A intenção é levantar prédios e, dependendo do terreno, erguer galerias comerciais, como as que foram inauguradas na Rua Guarapari, no Santa Amélia,  onde  lojistas e donos de restaurantes comemoram boas vendas. Perto de lá, comerciantes de bairros do lado Norte da capital também estão em festa. O Planalto, por exemplo, é uma espécie de ilha de prosperidade.

   

Graciete Feigueiredo, de 64 anos, perdeu a conta de quantas vezes foi sondada por construtoras, ávidas por comprar o imóvel da família dela, na Rua Guarapari, considerada a joia do comércio do Bairro Santa Amélia. O avanço da chamada nova classe média mudou a paisagem em várias regiões de Belo Horizonte e, na Pampulha, a Guarapari é um dos melhores exemplos de como a parceria entre o comércio e os serviços garante boas estatísticas à economia da capital mineira, como a baixa taxa de desemprego – 4,2% em fevereiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

As investidas de construtoras em residências da Guarapari é reforçada pelo surgimento de várias galerias comerciais no corredor viário. O mesmo ocorre em outras áreas da Pampulha, como na Érico Veríssimo, no bairro vizinho, Santa Mônica. Essa última ainda despertou a cobiça de grandes redes do varejo e de instituições financeiras. Nela, por exemplo, estão os supermercados EPA e BH e os bancos Bradesco e Itaú. “Daqui a alguns anos não haverá mais casas nessas ruas”, prevê Graciete, acrescentando que o vizinho em frente vendeu a moradia.

A antiga casa, que ocupa um terreno grande na esquina da Guarapari com a Olindo Ferreira, foi jogada ao chão para dar lugar a um centro comercial. “A obra começou há cerca de sete meses”, recorda Wanderley da Silva Pereira, de 23, que trabalha na construção civil. Ele foi contratado para reformar uma loja na Guarapari. O endereço fica próximo ao restaurante Casarão de Minas, onde Alceu de Almeida, de 60, trabalha como gerente.

 

Ele conta que o estabelecimento, que emprega 45 pessoas, comprou a residência ao lado e a transformou no estacionamento do empreendimento. “Na década de 1990, a Guarapari era lotada de casas. Agora é quase tudo comércio. Surgiram muitas galerias e bares”, conta. O dono do restaurante em que ele trabalha tem mais uma casa comercial na avenida, a pizzaria e churrascaria Quiosque Beer. “À noite, principalmente, os bares e restaurantes da avenida ficam cheios de clientes. É uma festa, de tanta gente que há”, acrescenta Alceu.

No Santa Mônica, empresas de pequeno e médio portes também lucram com o vai-vém de pedestres nas vias. Nos fins de semana, por exemplo, as operadoras de caixas de alguns sacolões precisam ser ágeis para evitar longas filas. Por sua vez, em alguns açougues, a experiência dos profissionais que atendem o público não é suficiente para evitar o acúmulo de clientes. A justificativa é o aumento da clientela.

O comércio também vai de vento em popa no Castelo, bairro que começou a ser povoado, com intensidade, na década passada. A área, hoje ocupada por dezenas de prédios, foi beneficiada com a ligação da principal avenida do bairro, a Presidente Tancredo Neves, à Pedro II, já na Região Noroeste. A obra viária facilitou o deslocamento dos moradores do Castelo e adjacências, que antes precisavam dar uma volta de quase três quilômetros para chegar à Pedro II.

 

A chegada de bancos como Bradesco, HSBC, Caixa, Itaú e Banco do Brasil (BB) está movimentando a economia dos principais bairros da Região Norte de Belo Horizonte, uma área que conta com 7.353 empresas, o menor número registrado entre as regionais da capital mineira, com 210,5 mil habitantes. Nos últimos seis anos, além de uma agência do Banco do Brasil, o Planalto, considerado a “Savassi” da área, que reúne 44 bairros, recebeu agências do Bradesco, HSBC e Caixa. O Guarani, que também tem uma área de comércio em crescimento, ganhou agências do Bradesco e Itaú e aguarda para agosto a chegada do BB.

 

A concentração de instituições financeiras fez as vendas do comércio do Planalto triplicarem nos últimos seis anos. No Guarani, o volume de dinheiro movimentado no comércio praticamente dobrou no período. A informação é de empresários locais. “O comércio literalmente triplicou nesses seis anos”, garante Arnaldo Lommez, proprietário da Optica Visage, instalada na principal avenida do Planalto. De acordo com ele, a área onde as agências bancárias foram instaladas é a mais plana do bairro, onde já havia uma vocação para o comércio. “Primeiro era só o BB. Depois, em seguida, HSBC, Bradesco e Caixa”, lembra.

O Bairro Planalto é praticamente uma ilha de prosperidade em meio a outros bairros da Região Norte de BH, onde o comércio ainda se restringe a pequenos negócios de roupas, telefonia celular, bares e supermercados. “Estamos no meio de dois corredores principais, as avenidas Cristiano Machado e Pedro I. Por isso, recebemos hotéis e prédios de luxo, temos um hipermercado (Wall Mart), lojas de roupas femininas e masculinas, quatro academias de grande porte. Não perdemos em nada para locais como Buritis e Gutierrez”, garante Lommez.

 

O Guarani segue o mesmo caminho. Edmilson Tadeu Silveira Carneiro é proprietário da Drogalina, instalada na Rua Waldomiro Lobo, a principal do bairro. “O comércio praticamente dobrou nessa região por causa da vinda dos bancos”, afirma. Com isso, o número de pessoas empregadas no comércio que saem da própria região aumentou. “A chegada das agências bancárias e dos Correios tem a ver com essa melhoria nos negócios. Por isso, o dinheiro está girando mais aqui dentro”, sustenta.

Fábio Vieira Attie é franqueado das lojas O Boticário na Região Norte de BH e tem duas lojas no Planalto e uma no Guarani. “O ritmo de vendas tem crescido 20% ao ano. As lojas de rua continuam a crescer, mesmo com a concorrência dos shoppings”, afirma.

 

REGIÕES LESTE E OESTE:

A parceria entre comércio e serviços é a principal engrenagem da economia de Belo Horizonte. Responsáveis por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) da capital mineira, os dois setores garantem – e não é de agora – uma baixa taxa de desemprego na cidade: o indicador fechou fevereiro em 4,2%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao todo, há 173,5 mil empresas no município. A maioria delas (64,37%) está pulverizada em oito regiões periféricas à Região Centro-Sul, área que em sua maioria foi planejada pelo engenheiro Aarão Reis, chefe da equipe que construiu a cidade, inaugurada em 12 de dezembro de 1897, e que concentra os demais 35,63% dos negócios da capital mineira. Embora as áreas ao redor do cordão da Avenida do Contorno não tenham sido projetadas por Aarão Reis para abrigar a maior parte da população, elas, hoje, abrigam. E ajudam a ditar os novos rumos da economia da capital, animada pela entrada da nova classe média no mercado. Em 2012, essa camada da população abrigava 104 milhões de pessoas (52% da população). Em 2022, a participação saltará para 57%.

 

As mudanças na arquitetura de tradicionais bairros da Região Leste de Belo Horizonte, como a nova Arena Independência e o Boulevard Shopping, confirmam a região como um promissor eldorado de negócios. Sua posição geográfica – próxima ao Hipercentro, com grandes avenidas e cidades vizinhas, principalmente Sabará – atrai tanto pequenos quanto megaempreendedores, que iniciam um processo de verticalização no entorno da Avenida dos Andradas. A prova desse novo cenário está num curioso balanço da Associação Comercial de Minas (ACMinas): o Santa Efigênia lidera o ranking de bairros fora da Avenida do Contorno com o maior número de empresas. São exatas 4.951, atrás apenas do Centro (17.596 organizações) e Savassi (6.325).

 

O balanço, em breve, mudará muito no Santa Efigênia. É que a boa-nova de lá, o Boulevard Corporate Tower, um arranha-céu comercial com 20,4 mil metros quadrados e 17 andares, será inaugurado até junho, como anexo do Boulevard Shopping. “Serão 3 mil pessoas por dia, entre funcionários e visitantes”, calcula, animado, Carlos Alcântara, da Aliansce Shopping Centers S.A. A empresa controla a futura torre e o shopping homônimos.


O Bairro Santa Efigênia, construído para moradia dos policiais transferidos de Ouro Preto para BH, na mudança da capital, não é o único a sofrer mudanças em seu perfil original na Leste. O Santa Tereza, cuja origem está ligada à colônia agrícola de imigrantes italianos, é conhecido hoje pela boemia e por ser o berço do Clube da Esquina, grupo que reunia músicos como Milton Nascimento, Lô Borges, Tavinho Moura, Beto Guedes.

 

Uma proposta em estudo pela prefeitura, porém, poderá mudar – dessa vez drasticamente – pelo menos uma parte do perfil do bairro: o megaempreendimento, de custo estimado em R$ 2 bilhões, deve ser erguido às margens da Avenida dos Andradas.


O projeto audacioso tem como destaque um prédio de 90 pavimentos e 350 metros de altura. A proposta, se aprovada, dará vida ao maior arranha-céu da América Latina – o Trump Ocean Club International, no Panamá, atualmente é o mais alto da América Latina (300 metros). O projeto é do escritório de engenharia e arquitetura FarKasVölGyi. A ideia da empresa é oferecer 100 mil metros quadrados de área de vendas. O local ainda teria uma arena multiuso com capacidade para mais de 20 mil pessoas.


O arquiteto Bernardo Farkasvölgyi diz que a escolha da localização foi estratégica e levou em consideração fatores como a completa estrutura urbana da região. “O projeto conta com a PHV Engenharia na viabilização do empreendimento, que já adquiriu 36 mil metros quadrados de terreno para dar início ao complexo. O empreendimento é de uso misto e tem potencial para alavancar o turismo de negócios e arquitetônico em BH”, acredita.

 

As boas novas que sopram a favor da Leste também chegaram aos antigos comerciantes da área. No Bairro Floresta, onde há 2.335 empresas, o empreendedor Roberto Grochowski, sócio da Lalka, primeira fábrica de doces da capital, planeja ampliar a produção de balas e chocolates, em 2013, em 5%. A fábrica, fundada em 1925 pelo avô paterno dele, Henryk Grochowski, nascido na Polônia, produz duas toneladas e meia de balas e a mesma quantidade de chocolate. Parte das guloseimas é vendida na primeira loja da família, que funciona na Avenida do Contorno.


Atualmente, a marca conta com nove pontos de vendas espalhados por BH, além de vender parte da produção na conceituada confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro. “Trabalhamos com o sistema de parceria e estamos estudando expandir a marca para outras praças. Nossa ideia é colocar uma loja em Brasília, outra no Rio de Janeiro e outra em São Paulo”, conta Roberto, que administra o empreendimento ao lado do irmão, Henryk, e do pai, Stanislau.

 

Se num extremo de BH a Leste tem o bairro (Santa Efigênia) com o maior número de empresas fora da Centro-Sul, no outro, a Oeste é a campeã de empreendimentos quando levadas em conta as oito regiões que não foram planejadas por Aarão Reis. As 20.434 empresas instaladas na Oeste correspondem a 11,77% de todas as organizações (173,5 mil) registradas na cidade. A maior consequência da explosão econômica na região foi a verticalização, a partir da década de 1990, do Buritis, onde a população, segundo o censo de 2010, somou 29.374 moradores. Para ter ideia do que representa esse número, basta compará-lo ao de tradicionais bairros da capital, como Lourdes (18.905), Serra (20.277) e Santo Antônio (21.642).


O aumento da população no Buritis transformou a antiga fábrica da Mendes Júnior numa faculdade. Os arredores do câmpus foram loteados por bares, restaurantes e centros comerciais. Agora, com pouco espaço disponível no bairro, os empreendedores invadem o vizinho Estoril. O destino predileto é a Avenida Mário Werneck, que também corta o Buritis e começa a se transformar numa espécie de “via da balada”.

 

Uma das boas-novas do Estoril, o Restaurante Boi Werneck, será inaugurado, em 15 de abril, com possibilidade de música ao vivo. O empreendimento é do mesmo grupo que controla o Boi Nobre, o Boi Prudente e a Na Lenha Pizza Grill. Sócio do grupo, Vinícius Ferreria conta que a casa abrirá 30 vagas de emprego diretas e deverá funcionar até as 2h. “É um bairro com boa demanda. E estão construindo um importante prédio em frente.”


O empresário se refere à nova sede da MRV Engenharia, que terá nove andares e será inaugurada em julho de 2014. Em nota, a construtora informou que “decidiu se deslocar para lá, sobretudo, por ser uma região que permite uma série de otimizações em razão da localização, fácil acesso e mobilidade privilegiada.”

 

O público diário no imóvel deve chegar, segundo a MRV, a 2 mil pessoas. De olho nessa potencial clientela, o empresário Vanderley Costa Fernandes também se apressou em montar um restaurante na Mário Werneck. O Skenta foi inaugurado há duas semanas, com a meta de servir 300 refeições diárias. Depois da inauguração da sede da construtora, essa oferta será reavaliada.


“É uma área muito promissora. Ocupamos 300 metros quadrados e estamos planejando oferecer música ao vivo, à noite, em razão de também estarmos próximo ao Chalezinho”, adiantou Vanderley. O Chalezinho ao qual ele se refere é uma tradicional casa noturna de BH. Inaugurada no fim da década de 1970, na divisa da capital com Nova Lima, ela foi transferida para o Estoril em julho de 2012.


“Quando estávamos à procura de um local para fazer a nova casa, cogitamos alguns bairros. Além da estrutura do Estoril, analisamos o acesso e também um terreno que nos possibilitasse construir o Chalezinho da maneira que gostaríamos. E o Estoril foi o que melhor nos atendeu”, justificou Vinícius Veloso, sócio e diretor de Marketing da casa.

 

 

*Fonte: Jornal Estado de Minas, março de 2013.